domingo, setembro 25, 2005

Alma-Mater

Estou deixando o Aplicação, me despeço daquele prédio onde entrei criança e saio homem, daqueles corredores que via lotado de gente grande e agora vazio dos pequenos. Aprendi muita coisa lá, inclusive a rejeitar alguns ensinamentos dele. Fui instigado a revolucionar e reagi, a progredir e retroagi. E talvez se não fosse por ele ter me jogado do penhasco não teria aprendido a voar por tão cedo.
Saio, infelizmente, porque o colégio me traiu, ele que nunca me pediu muito, nunca exigiu nada, quis se soltar de quem nunca o prendeu. Ele me largou por um sonho no qual tem a indecência de querer acreditar. Eu o aceitei com seus vícios, ele não me quis com minha virtudes.
Segue um trecho de um texto da minha oitava série, muito brega, mas todo romântico o é um pouco, nenhum apaixonado hesita em sê-lo:
Alma-Mater
O Aplicação é tudo o que eu sonharia se antes de conhecê-lo eu soubesse sonhar. A gente do Aplicação, aspirava liberdade e expirava criatividade. Um sonho de mundo crescia silenciosamente no pátio do colégio, se enraizando em nosso peito, tomando de tronco nossos corpos, de folhas nossas mentes, de frutos nossas realizações, de flores uma história.
Mas - esse "mas" que tem o dom de mudar o mundo, de derrubar governos, de fazer revoluções, nos traiu o "mas" nos traiu - tudo foi se acabando de repente, não mais que de repente.
Nos sufocaram, oprimiram nossa gente, derrubaram nossa árvore, conspurcaram nosso sonho. É chegada a hora de amanhecer, essa noite já por muito se prolonga. Se nos sufocarem não vamos desmorrer? Se derrubaram não vamos replantar? Se nos vilipendiarem não vamos nos levantar?
Não vamos fazer nada? Vamos ficar afundados na nossa própria mediocridade, engolindo insatisfação e vomitando comodidade?