sábado, setembro 17, 2005

Reagindo

Prometi que voltaria a escrever hoje. Por pouco não fui dissuadido da idéia. Não se paga conta se não há credor. Ninguém vai chegar em um boteco cujo dono morreu de cirrose em cima da mesa de bilhar e enfiar cinco reais, referentes ao porre da sexta passada, na caçapa. Mas reclamaram o cheque que passei. Reagi, devo, não nego, pago agora. Como não sei sobre o que escrever tomei como assunto o próprio texto. Agora tenho outras idéias, mas não quero apagar o que já escrevi. Fica estranho, mas vou começar.
Segunda-feira (19) os professores da UFPE fazem Assembléia Geral para deflagrar greve. Mais uma vez. Planeja-se começar logo para não haver aulas no segundo semestre. O segundo semestre deveria começar, em condições normais, no início de Agosto. Agora especula-se que não comece na terceira segunda-feira de Setembro, data que veio de várias greves. Não quero nem saber onde vão cair nossas férias de meio de ano em 2006, ou elas ficarão para 2007?
Não tenho raiva dos professores, há quem tenha. Chegaram a soltar bombas em bibliotecas da UFPE em situações similares. O governo dá 0,1% é ganhar um salário de mil reais e receber um real. É feio, é mau, é indecente. Mas e a greve? Não acredito que os professores achem que a greve resolve, depois de tantas. O governo não liga para a educação e não vai perder a calma porque os alunos estão sem aula. Greve só tem sentido para caminhoneiros, estivadores, petroleiros, motoristas de ônibus, funcionários dos correios. Greve na educação não prejudica o governo, mas somente a nação e, não duvidem, até ajuda. Ajuda porque não é difícil ficar com raiva dos professores depois de mais uma. Ajuda porque economiza dinheiro em equipamentos, luz, água, merenda. Ajuda porque se brincar ainda cortam um ponto aqui ou acolá.
Mas os professores não sabem então que sua greve só atrapalha os seus alunos e não melhora a situação? Sabem, mas estão cansados, a greve é o chute no balde deles. Não pagam direito? acham que a gente é palhaço? então a gente não trabalha. Pronto. E lavam a consciência da reclamação dos alunos com explicação de que a culpa é do governo. Assim como Roberto Jefferson, rouba e sente que é apenas uma vítima do sistema corrupto.
Mais uma vez nós perdemos, perdemos o tempo, agora livre para falar sobre isso. Perdemos a chance de mostrar ao governo, que apesar dele, nós conseguimos.
Quem ganha com isso? Eles! Aqueles que ganham com toda a sacanagem do país! Os socialistas que mantêm os trabalhadores em fileiras contra o sistema, em pé de revolução.
Não duvido: greve deflagrada, um sorriso malicioso da boca recheada de ouro de José Dirceu.

8 Comments:

At 12:10 AM, Anonymous Anônimo said...

Amigo, falou em greve dos professores, aqui estou... Antes de tudo, há quanto tempo! Tenho novidades. Contarei pessoalmente a você depois.
Bom, quanto a greve, saiba que o governo se dói sim! É um emaranhado meio desanimador, mas interessante (principalmente para mim, um deturpado que quer modificar as coisas e acredita que o caminho é o socialismo não a social democracia).

Bom, vc está certo. Uma greve de um dia de estivadores dói mais de que 10 dos professores. Mas a destes não deixa de doer. Com o funcionalismo parado a população reclama, a mídia expõe. Se o serviço público não prestasse para nada, não existiria. Além disso, por mais que o governo tente colocar a culpa da greve no servidor, quando um serviço oferecido pelo governo pára (um serviço que aliás vêm sendo sucateado pela doutrina neoliberal), a culpa é de quem deveria prestar, ou seja, o estado. Há a idéia de uma má administração do estado - o que é, convenhamos, verdade.
Quanto aos professores, é burrice ter raiva deles. Eles fazem isso porque sabem, perfeitamente, que só ganham alguma coisa com a greve. Sem a greve, 0,1%. E AS GREVES TÊM RESULTADO SIM!!! Quanto maior a mobilização, quanto maiores as radicalizações, mais conquistas, evidente.
Acho que é interessante também o ato da greve para que se mostre que estamos VIVOS. Se o governo ataca, e a gente nem ao menos contesta, muito menos tem consciência, o governo acostuma. Na verdade, os poderosos acostumam. Não inventaram outra coisa. Não existe greve parcial na educação. Concordo que "greve pijamão" não resolve nada. Só as radicalizações (não queria usar esse termo...) arrancarão conquistas.
Bom, as linhas gerais são essas. Conhecendo vc como eu conheço, sei que haverá contestações. Conversamos melhor depois, já que pelo visto a gente vai ter muito tempo livre.



---Sim, antes que eu esqueça, já que vc havia me perguntado, dois professores que militam regularmente na adufepe são do CCEN, sendo um diretor.

 
At 12:36 AM, Blogger Luiz Augusto Silva said...

Siqueira o governo se dói assim como se dói quem é perturbado por um mosquito de vez em quando. Não cogita comprar repelente.
Tanto é que o governo dá um aumento de 0,1% aos servidores, sabendo que vai haver greve e, não duvido, até querendo que haja mesmo, provocando, fazendo pouco.
A mídia geralmente expõe contra o funcionalismo com manchetes do tipo: "greve de professores deixa tantos mil alunos sem aula".
A raiva se volta, primeiramente ao governo, mas depois de algumas greves se percebe que os professores estão dando murro em ponta de faca, e com a mão dos outros! Tanto é que se viu até bomba na UFPE contra a greve.
Quanto a prestação de serviços o povo está aprendendo a diferenciar responsabilidade de culpa. Atribui responsabilidade ao Estado, mas está deixando de culpá-lo, por ver que só pode ser cara-de-pau dos servidores acharem que vão melhorar tudo com greves. É desonestidade com a sociedade fingir acreditar que funciona!
Se ganha alguma coisa com greve? nem um milésimo do que deveria ser dado, nem um centésimo do que se reclama. Quanto se perde? o tempo que nos tornará livre para discutir essa baboseira. A chance de mostrar que apesar do governo, a gente faz e faz direito.

 
At 7:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Só a guisa de informe, o dinheiro (que mal existe) "poupado" durante a greve, não volta pro governo, e sim permanece nas instituições. É dinheiro pouco, que não vale os transtornos da greve. E se o governo gostasse de greves no funcionalismo, os "governistas" dos seus sindicatos seriam a favor, quando se posicionam sempre e fortemente contra a greve.

Sim, concordo com vc, o puro e simples ato da greve não dói muito não. Mas o mosquito persiste e o repelente NÃO É TÃO EFICAZ QUANTO VOCÊ IMAGINA. Justamente por isso que eu disse: "'greve pijamão' não arranca conquistas. A conquista maior só acontece com mobilização".

Em 1985, os professores conseguiram 75,06% de aumento e a liberação de 70 bilhões de cruzeiros numa forte greve de 45 dias, bastante mobilizada. Mas porque hj não surte tanto efeito? A greve perdeu menos importância? Não. As greves têm que durar mais porque as conquistas não são efetivadas em menos tempo por falta de mobilização. A concorrência entre os trabalhadores (e estudantes), o trabalho individualista, o mercado de trabalho, e a perda de uma esperança existente na ditadura dividem e desanimam os professores.
Já o ato da deflagração da greve tem importância por um simples fato: a tomada de uma consciência coletiva entre os professores e entre os funcionários.

Quanto aos fascistas que jogaram uma bomba na biblioteca, só podemos dizer que é um ato da mais profunda ignorância. Enquanto essas pessoas querem defender suas aulinhas e suas férias, os professores querem defender a universidade que está se acabando, universidade que os filhos deles estudarão para estar nela futuramente - se ainda existir; isso tudo quando devíamos estar batalhando junto com eles para que a greve tenha resultado, e para colocar em pauta nossas próprias reivindicações, que são muitas.

A mídia ataca a greve porque é a favor do governo, ou simplesmente porque é de direita.

A população sabe reconhecer que os professores fazem greve porque querem, mas não têm uma visão de futuro. A população acha que, se houver greve, a corrente quebra no elo mais fraco (ou seja, ela). Mas não sabe que, influenciada pela mídia, acaba querendo que o elo quebre no lado dos funcionários; o que é bem conveniente para o governo, o elo mais poderoso. E nem sempre o sindicalismo tem a capacidade de fazer com que a população perceba que está do lado dela - e, é claro, do seu contra-cheque (e eu não tiro a razão deles). Murro em ponta de faca os professores, e nós mesmos, daremos todos os dias, se formos seguir o seu exemplo de "fazer direito sem o governo". Temos que fazer que todos cumpram com as suas obrigações éticas (inclusive os professores e nós mesmos), e por enquanto, queremos que o governo faça a sua parte por uma questão de justiça.

Por isso, juntemo-nos aos professores, participemos, façamos com que o governo atenda as reivindicações, e façamos as nossas. É essa união que temos que buscar.

 
At 4:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Aproveitando pra dar uma esfriada de ânimos por aqui, fico grato em saber que minha contestação sobre a data da volta foi atendida :)
Admito também que fiquei chocado ao saber da probabilidade de outra greve, pois como muitos que por aqui passam sabem, apesar de não ser aluno do CAp, já fui, e sei o quanto uma greve pode prejudicar a vida do aluno. Mas o texto foi bom pra me alertar de que os professores têm sim seus motivos, mesmo que a solução encontrada não seja a mais correta.
Espero sinceramente que não haja greve, ou que, se houver, não os atinja. Mas também espero que os funcionários públicos consigam o merecido aumento salarial.
Agora me retiro para que vocês possam continuar a discussão :)

 
At 6:15 PM, Anonymous Anônimo said...

APROVADA A GREVE GERAL POR TEMPO INDETERMINADO! Pela maioria dos votos, na segunda seção da assembléia geral de hoje (19/09), os professores aceitam a realização de uma greve já.

****Amigo, infelizmente, ainda não invetaram no Brasil outro meio. Só se consegue alguma coisa com a greve.

 
At 12:37 AM, Blogger Luiz Augusto Silva said...

Eu sei que o dinheiro fica na instituição, mas a instituição é mantida (ou deveria ser) pelo governo, que com certeza tem consciência do quanto se gatsa e do que é necessário; o dinheiro economizado (é pouco, falei só porque já é algo) é revertido, mesmo que de forma sutil pelo menos para comprar um papel higiênico.
E a mobilização é tão grande que precisam cagar na boca da decência e chutar a morald e lado para ter a cara de pau de fazer uma greve com uns setenta votantes.
"Devemos nos mobilizar para fazer a greve, não fazer a greve para nos mobilizar" ...

 
At 1:50 AM, Anonymous Anônimo said...

Olha, as assembléias da ADUFEPE geralmente as mesmas pessoas dizem as mesmas coisas. Quem o falou, que na verdade eu faço idéia de quem tenha sido, cometeu um equívoco, já que hoje (21-09) já se estabeleceu dias de mobilização, passeata, debates, outras assembléias e apoio estudantil. Cogitou-se fechamento de vias. O que essa pessoa estava fazendo na verdade era QUESTIONAR o que estava acontecendo, e não DEFENDENDO uma REALIDADE do movimento. Em outras palavras, estava querendo que a decisão de uma greve se fortalecesse, e não deflagrar pra depois as pessoas virem; era na verdade um crítico aos líderes do movimento, não um defensor. Entende?
É interessante não descontextualizar e não colocar a frase DO professor como uma fale DAQUELA RAÇA (infelizmente, muito típico de você, Luiz).
Olha, este professor está equivocado porque a realidade é esta: a minoria decide, a maioria acata e defende. Não vai pra assembléia porque não quer, se não tiver greve, nem se interessa. Como disse o diretor do ANDES: "Nossa greve é estilo termômetro. O professor não vem pra assembléia, mas a gente sabe quando ele quer ou não greve" - e quis.

Ouve falar da ADUFEPE com a greve já deflagrada. E vai pra assembléia.

Dizem o seguinte: "A questão grevista é específica: a única forma de pressionar o governo é com a opinião pública". Concordo em (maior)parte. A opinião pública não está mais a favor do ideal docente, na verdade não está a favor de ideal nenhum, mas quer o fim da greve. O governo é OBRIGADO, por ser o "patrão", a pôr o fim na greve. Como? Atendendo (minimamente) as reivindicações dos professores. É por isso que o MOSQUITO é chato. Não duvido, porém, que se com mais ou menos força este mosquito não existisse, a universidade seria um importante campo de exploração de idéias por parte de um grande grupo privado, possivelmente estrangeiro, ganhando em cima da exploração do nosso trabalho. A sociedade? As idéias? O sertão? O povo? Que se lasque!

"E a mobilização é tão grande que precisam cagar na boca da decência e chutar a morald e lado para ter a cara de pau de fazer uma greve com uns setenta votantes." - Bom, acredito que está explicado: as pessoas que assinaram queriam greve, OS QUE NÃO QUERIAM NÃO FORAM OU NÃO ASSINARAM, NEM SE PRONUNCIARAM. Já foram deflagradas greves maiores e melhores com 40 pessoas no movimento dos técnicos, que conta com muito mais pessoas. A greve deixou de vingar? Não. Não é chutar a moral de lado: foi feita uma ampla divulgação, com direito até a carta. O espaço era democrático, falava quem queria. E quem foi contra a greve?

Os burocratas ficaram indignados: burocraticamente, era legítimo. É um problema dos movimentos sociais como um todo, a falta de mobilização. Quem caga na boca da decência são os governistas que, vendo que a categoria quer a greve, vendo que nacionalmente a há a greve e que há condições objetivas para fazê-la, mas não a faz para defender as contas do governo e não o bolso vazio do trabalhador. Os professores querem greve, o Colégio já parou por adesão voluntária. O CE se revoltou por um simples fato: um ser nem um pouco político do sindicato que teve a brilhante idéia de brigar com os seus colegas.

Por indicação de Chico (lá do CAp) haverá uma outra assembléia, de divulgação ainda maior, para colocar discutir a continuidade da greve. Segundo as próprias palavras dele, "Não tenho medo que isto represente o fim da greve. Pelo contrário, companheiros! Vai representar um respaldo cada vez maior ao nosso movimento. Os professores querem a greve".


Sim, Luiz, agora uma crítica. Não saia, ao arranjar qualquer razão que for, xingando as pessoas de imorais, corruptas, indecentes. Por mais que cristo o fizesse, ele era o "iluminado filho de Deus, sabedor da verdade e razão". Infelizmente você não, pode cometer erros em seus julgamentos e falar mal de pessoas como Marta, Marlon, Kátia Barreto, Paulo, Edivaldo, Zé Carlos, entre outros, que acharam legítima a entrada na greve. Pessoas como Everaldo, atual presidente da ADUFEPE, são pessoas de caráter inquestionável.
Para você que gosta:

"Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também." -- Mateus 7:2

"Não se prive de julgar a conduta do próximo, mas o faça com sabedoria, mansidão e irmandade. Isso não significar ser tolerante com os erros, mas ser tolerante com o que erra. Odeie o pecado, não o pecador – isto Jesus nos ensinou" - Nem me lembro quem disse isso.

"O cristianismo é algo maravilhoso que infelizmente ainda não foi experimentado" - Mahatma Gandhi

 
At 11:34 AM, Blogger Luiz Augusto Silva said...

Olha Siqueira, desculpa, estou meio mal hoje, não entendi grande parte do seu texto. Melhor, não vou mais discutir isso. Tem mobilização? beleza, desculpa, eu não percebi. Vai resolver? tomara.
Eu não falei mal de nenhum professor em particular, acho sacanagem sua fazer isso, mas tudo bem. Disse que era uma indecência essa greve e que é uma indecência, senão ignorância da braba, "achar" que a greve vai resolver.
Quanto ao que você falou de Cristo e de mim eu vou responder em tópico.

 

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